Reconectar em um mundo de ambiguidades: para que?

Escrito por Ingo Ploger em .

Article Latin Trade June

 

Reconectar em um mundo de ambiguidades: para que?

 

Ingo Ploger, Brazilian entrepreneur, CEAL Brasil President

 

A pandemia nos desconectou.

O mundo desconectou as relações das proximidades humanas no social, mas o confinamento conectou intensamente os relacionamentos pessoais em casa. Houve uma reconfiguração de relacionamentos de altíssima intensidade familiar em consonância com um brutal distanciamento social.  A ponte tecnológica superou o distanciamento social e profissional através da relação virtual.

Após meses de isolamento, iniciamos o retorno à saída, de formas diferentes onde de um lado pessoas com receio, obedecendo protocolos, e de outro, pessoas que foram às ruas para se manifestar em favor da liberdade, da retomado econômica, bem como sua contrariedade à violência, ao racismo, discriminação pela justiça, pelo clima, dentre outros, demonstrando a censura aos protocolos. Precisamos entender como estes comportamentos nos reconectaram ao mundo novamente.

Estávamos conectados. Nos desconectaram.

Iniciamos um reset do mindset. Queremos nos reconectar ao Novo 1). E o que encontramos é um mundo cheio de ambiguidades.

As ambiguidades que são valorizações ou atitudes contrastantes ou opostas, sempre fizeram parte de nossas vidas. As pessoas têm dificuldade em conviver com ambiguidades e não querem se equivocar. Precisam de coerência e manter a confiabilidade. As novas relações em casa e nas redes profissionais nem sempre se mostram de maneira coerente, lógica, sistemática, ordenada e transparente. Se mostram contraditórias, em opções opostas, difusas, de lógicas diferentes. Temos a necessidade de fazermos uma opção por um dos lados, pois nossa índole é sermos coerentes para sermos críveis. Queremos ao mesmo tempo Resultados e Relacionamentos R-R bem sucedidos. A convivência com expectativas de sucesso nas relações de casa e do trabalho cresciam exponencialmente, e para estarmos felizes nos baseamos em sentimentos e símbolos de felicidade buscando Propósitos, Significados, Motivações e Realizações.

Quando somos surpreendidos com esta simbiose que desmonta nossas expectativas, e o Relacionamento agora se concentra exclusivamente na casa e coloca em desequilíbrio o RR da casa e do trabalho.

De um dia para outro somos arrancados dos relacionamentos habituais do trabalho e entramos neste relacionamento via a casa, onde o Relacionamento através da casa passa a ser real e o do trabalho virtual. Se no trabalho estávamos evoluindo no networking e aumentávamos o grau de liberdade, autonomia e a autorrealização, em casa estamos experimentando outra realidade. Menos autonomia, maior vulnerabilidade e menor autorrealização reconhecida. A insegurança colocou a confiança em jogo. O que era antes, não voltará a ser, e o que virá depois não sabemos: tanto na casa quanto no trabalho.

Percebemos que estamos desconectados daquilo que nos dava segurança e confiança.

Enquanto isso, “lá fora” as ambiguidades só crescem e nos forçam a tomar posições indesejadas.

A insegurança quebrou a sustentação da confiança. É preciso buscar a nova base para construir a confiança no Novo.

Esther Perel em uma das suas recentes palestras sobre o Power of Relational Intelligence, fala que a remontagem da confiança se dá no processo de Harmonia- Desarmonia e Reparo, ou na Conexão- Desconexão e Reconexão. Ela mostra que o novo equilíbrio do Relacionamento parte de uma nova confiança adquirida pelo rompimento e sua posterior reconexão 2). A busca da nova confiança parte da perda de segurança do antes, como exemplo, o emprego, a não violência, a equidade, as inúmeras oportunidades. A nossa vida pessoal e institucional estava regimentada por regras, estruturas, procedimentos (talvez até demais) que nos davam segurança e que de repente parecem perderem sua validade. O sentimento comum de perda de essencialidades do R-R acontece em todos os níveis: pessoais, institucionais e governamentais. Essencialidades como:

Poder e Controle, Cuidado e Proximidade, Respeito e Reconhecimento, serão redefinidos em âmbitos pessoal, social, econômico e político em dimensões ainda não vistas.

Ao saímos da casa para nos Reconectar, não sabemos como  encontraremos o trabalho.

O que acontece com as pessoas acontece com empresas, governos e a economia. No âmbito da sociedade e da economia, saímos de Economia Industrial nos transformamos na Economia dos Serviços e agora parece que estamos entrando na Economia da Identidade, que ainda não conhecemos. Somente pressentimos e precisamos ainda idealizar. O enorme desafio desta Economia ou Sociedade da Identidade está nos ideários das opções, que hoje aparecem não só ambíguas como contrapostas. Temos o capitalismo de Estado (caracterizado pela China) e o capitalismo meritocrático liberal (caracterizado pelos EUA) e as diversas matizes entre eles. Para as pessoas com ideias fortemente prefixadas somente existem opções baseadas em um ou de outro modelo. Outras mais abertas, buscam na ambiguidade os caminhos das melhores alternativas, mantendo as oposições como complementaridade criativa , e vivendo com ambiguidades ativamente. Neste antagonismo experimentamos radicalismos, violências e ao mesmo tempo altruísmo, doação pessoal e solidariedade humana. Este contraponto, é descrito por Jonathan Salk, no seu New Reality, como sendo o ponto de inflexão entre os grupos do antigo e do novo 3).

A dificuldade de aceitar as ambiguidades se reforça em conceitos que se enraízam no mindset de grupos mais fundamentalistas e de suas lideranças, que o economista e Prêmio Nobel Paul Krugman, descreve em sua recente obra Arguing with Zombies, onde mostra o risco das ideias fixas “ zombie ideas”  que proliferam nas mais diversas esferas 4). A radicalização e a consequente divisão, têm atrativos de sua simplicidade e o entendimento do tamanho de um Twitter (entender, aceitar e unir adversidades e ambiguidades não cabem em um Twitter).

As saídas mais prováveis serão menos globais, mais digitais, mais desiguais e mais antagônicas. Favorecerão no curto prazo aos que dividem e não aos que unem.

Cenários de Guerra Fria 2.0, Antagonismos Capitalistas, Alianças entre Poderes, irão compor um novo mundo mais dividido entre; um ou outro, do que, um e outro.

O nosso desafio está em manter a mente aberta às novas opções, mesmo sendo antagônicas, e acreditar que na complementariedade e diversidade é que vamos obter caminhos inovadores nunca antes navegados. Ao mesmo tempo desenvolver respostas a desafios ainda nunca vistos, com ética e solidariedade conquistando a confiança perdida.

A nova interdependência entre a casa e o trabalho vai constituir um Novo Relacionamento diversificado para se obter Novos Resultados inesperados.

Ao você pular no escuro, que sua mente seja com um paraquedas, aberto, pois funcionará melhor.

“As idéias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões de instituições que atuam.”

Copyright © 2021 Ingo Ploger22

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