Escrito por Ingo Ploger em agosto 27, 2019.
Fumaça demais, prejudica a visão…
Ingo Plöger, empresário, brasileiro, Presidente do Capitulo Brasileiro do CEAL
“ … a nossa casa esta queimando..” referencia às queimadas da Amazônia, foi o que Macron postou em seu Twitter pouco antes da Reunião de Cúpula do G7 em Paris. A foto de uma queimada de floresta tropical acompanhava a notícia. Notoriedades do mundo inteiro acompanhavam o noticiário, alguns conclamando ate ao boicote a produtos vindos da Região. O governo brasileiro reage intempestivamente, alegando que nem todas as informações publicadas são verdadeiras e que existe uma concertação internacional contra a competitividade do país. Antecede a este fato uma escalação do assunto amazônico pelo debate do financiamento do Fundo da Amazônia, financiado pela Noruega, Alemanha e o Brasil, com a suspensão de pagamentos pelos europeus. O agronegócio brasileiro reunido no Congresso da ABAG no início de agosto demonstra sua preocupação pelas informações junto a seu mercado consumidor em grande parte equivocadas, mas de impacto econômico sobre a percepção de seu consumidor sobre o assunto ambiental. Instala-se uma tempestade perfeita em torno de um assunto geopolítico de alta sensibilidade publica no meio de uma tormenta econômica maior pelos sinais contraditórios advindos do conflito comercial China- EUA, redução de crescimento na Alemanha, descontentamento popular na França e de um BREXIT não organizado. Parece vir de encomenda desviar-se de um assunto central para um novo patamar de preocupação popular que está longe dos epicentros da economia mundial.
Como empresário, de uma empresa centenária na região, que há mais de 129 anos preserva a floresta nativa e refloresta para fins industriais, provocados por imprudência, atitudes pirotécnicas, autocombustão, assentamentos entre outros, a cada ano que passa aprimora por tecnologias de previsão e combates mais eficazes e rápidos, reduzindo os danos causados, surpreso fico com a explosiva situação que temos. Para quem está no meio de uma fumaça gigantesca, a primeira providencia é se orientar para fora dela e saber para onde vai o fogo.
Neste ano de 2019, a Região passa como todos os anos no inverno, por uma falta de chuva, o que dá uma incidência de queimadas muito maiores do que em outros momentos do ano. A Amazônia passa neste ano por focos de incêndios maiores do que anos anteriores, em parte pela seca maior, em parte pelas queimadas controladas nas propriedades rurais para preparar o plantio, em parte pelas queimadas que passaram das propriedades rurais, para áreas vizinhas habitadas ou não e uma parte de queimadas em reservas florestais provocadas por irresponsáveis. O monitoramento por satélite, capta todas elas. Somente uma avaliação de profundidade por técnicos e métodos científicos dão a dimensão correta do tamanho do problema. Começa ali um dos problemas de interpretação, se os dados fornecidos pelo método do INPE são os mais adequados ou não. Outros dados, inclusive da NASA, dão outras respostas o que aumenta a contestação pelas partes. O foco do problema aumenta quando a alegação se dá que as queimadas ilegais de florestas tropicais são originárias da expansão do agronegócio brasileiro. Esta simples afirmação é suficiente, para em um espaço de um Twitter sensibilizar consumidores, da simples ação, não consuma produtos agrícolas advindos da Região e você eliminará a destruição da floresta amazônica. É evidente que isto não resiste a qualquer avaliação de profundidade maior. Hoje os produtos exportados pela Região 80% são certificados por entidades internacionais sobre boas praticas ambientais e socias, sem as quais não poderá entregar seus produtos. Mas existem alguns sim, que não aderem às boas praticas e prejudicam o todo, ate porque se utilizam de baixa tecnologia, baixa produtividade, sem compromissos sociais e éticos. Os assentamentos ilegais são em sua grande proporção focos de queimadas das florestas tropicais. Interessante notar que estas razões foram muito bem identificadas nos relatórios do COFA, que é o Steering Committee do Fundo da Amazônia nos anos 2018, e antes, porem não souberam trazer nenhuma solução a estes conflitos relatados. O Brasil é o primeiro signatário da Rio 92, ratificou a Acordo de Kyoto, e firmou vários compromissos internacionais e os atendeu, assim como firmou o Acordo de Paris. 2/3 de seu território são protegidos por lei de preservação ambientais e indígenas. A lei de propriedade rural exige um CAR Cadastro Agrícola Rural, que é um georreferenciamento de todas estas propriedades, que precisam consolidar em sua escritura as partes que são Áreas de Proteção Ambiental APP e Reservas Legais. É o maior cadastramento mundial, digital, controlável por satélites do mundo. Este processo passou por profundos debates no Congresso brasileiro por mais de 10 anos…
Acontece que mesmo com todos estes esforços, as queimadas aumentam. O Brasil, e ai não é só o governo federal, mas também os estaduais e municipais, não conseguiram estabelecer em seu território total os controles devidos para dar efetividade de controle. No meio disto existe ainda a extração ilegal de madeiras, que tem ligações com autoridades negligentes ou corruptas, e um mercado comprador nacional e internacional negligente.
Se para nós empresas de celulose e papel, como exemplo, não temos a menor chance de exportar, se não tivermos o selo da FSC, duríssimo e anualmente renovável, e que temos o maior interesse que em nossas propriedades e em nosso entorno e nas nossas áreas protegidas não haja incêndios, sofremos com este impactos e ai sim, temos o compromisso com o bem maior, como será nos rincões de nosso Brasil longínquo.
É claro que o que acontece hoje no Brasil no processo de combate a corrupção, melhoria da governança em todos os escalões e combate à ilegalidade muitas forças se unem contra, adicionadas a interesses que se veem prejudicados por estas ações, e aqui se alia agora a percepção externa, também de boa fé ( querendo salvar a Amazônia) e de má fé ( reduzir a competição brasileira do agronegócio) em uma tempestade perfeita.
A Amazônia, só para lembrar é constituída por 8 países que compões a Amazônia, reunidos em uma organização internacional pela ONU, denominada ACTO Amazon Cooperation Treaty Organization, sediada em Brasilia, que não recebe nem verba nem atenção por ninguém e que poderia liderar projetos constituídos para atender a uma população de 25 milhões de habitantes integrando projetos científicos, sociais e econômicos integrados, respeitando a soberania dos países que a compõe.
A fumaça que vem sobre esta Região é demais!
Demais pela redução das florestas naturais, demais por aqueles poucos que não querem obedecer as leis e a ética da sustentabilidade, demais pela má fé em prejudicar o todo sem levar em consideração aqueles que a vida inteira fizeram o certo de maneira certa, demais por negligenciar a vigilância e tolerar o proibido, demais por não ajudar de fato e fazer desta situação um proveito politico eleitoreiro. A sociedade brasileira e os da Amazônia, querem sim o melhor, e vale agora reconhecer a real fumaça nociva que devemos combater conjuntamente, sem preconceitos de origens e de ideologias, pois fumaça demais nos tira a visão para o Bem!