A nova Boa Governança sob ataque ou prova de conceito?

Escrito por Ingo Ploger em .

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A nova Boa Governança sob ataque ou prova de conceito?

Ingo Ploger, Brazilian entrepreneur, CEAL Brasil President

 

As eleições americanas colocaram em evidência o quanto o estilo, a forma e atitudes se tornaram mais importantes do que conteúdos na preferência do eleitor.

Não eram tanto os conteúdos, mas a forma de se fazer política que estava em jogo.

Egocentrismo, individualismo … EU sou a solução, VOCÊ é o problema versus Equipe. Nós com outros pelas instituições com regras … o NOSSO problema e a Nossa solução.

Atitudes democráticas, incluem o ganhador e o perdedor se manterem nas regras do jogo. Quando isso não ocorre, a regra do jogo é que está em evidência. Assim ocorreu nos EUA, símbolo e farol da democracia no mundo. Os mais diversos analistas políticos concordam de que a divisão da sociedade americana aumentou de tal ordem que a base mínima de consenso sobre prioridades de Estado se tornou difícil nas conversas políticas. Fenômeno que não ocorre somente nos EUA, mas também em outros países democráticos, onde o diálogo se dificultou pelas radicalizações e as formas de se resolverem os conflitos de ideias. Vemos isto no Peru, Brasil, Colômbia entre outros.

Muitos fatores concorrem para esta tendência. Uma delas a da “tribalização digital” das sociedades abertas, onde o confronto se torna uma afirmação de grupo em ambientes digitais ou não, e a civilidade para a tolerância e respeito do alheio se perdem no caminho, abrindo espaços para comportamentos individualistas, narcisistas e egocêntricos.

Esse espaço de extremos mostram as duas tendências predominantes: a do individualismo de um lado e o de prevalecer no grupo de outro. Jonas e Jonathan Salk, em sua primorosa obra The New Reality,1)  mostram que as sociedades se encontram em um momento histórico de inflexão de crescimento exponencial populacional, ou seja, o que era uma aceleração exponencial positiva, se torna aceleração negativa, o que caracteriza este ponto de inflexão em uma curva S. É neste ponto ( que pode levar décadas) que as sociedades se dividem em “ velhos e novos hábitos” e a sociedade se divide.

Uns que sempre querem que tudo continuará assim como é (tendência A) e outros que querem mudar (tendência B). Observando essas tendências sobre o ponto de vista da governança, tema em destaque nas sociedades, podemos significar que a tendência A quer manter o que temos e o que possuímos, e leva a hábitos de egocentrismo e no seu extremo ao individualismo populista. Já a tendência B busca a composição, a equipe, o outro para alcançar objetivos comuns. A tendência B de governança, teve um auge na era pós queda do muro de Berlim, onde o multilateralismo e as convenções internacionais de clima, saúde, trabalho, integrações regionais e tantas outras evoluíram. Mas não conseguiram flexibilizar e dinamizar a caminhada, tornando-se engessadas em sendo politicamente corretas e perdendo sua identidade e personalidade. Não mais expressavam o que muitas partes das populações aspiravam como mudanças necessárias, e aí vieram as lideranças “politicamente incorretas” e colocaram temas de aspirações populares. Este estilo de romper o “politicamente correto” para trazer soluções disruptivas, não se atendo a acordos firmados, a tradições de atitudes comuns, fez com que esta tendência A recebesse uma atenção do eleitor muito maior do que esperada. Explica a vitória e adesão de um estilo personalista de Trump, de atitudes separatistas de Boris Johnson, de polêmicas de Bolsonaro, de rompantes Ergodan e assim por diante. Já tivemos isso em democracias onde a liderança contava com o jogo comportamental individual que colocaram à margem as decisões coletivas de sua equipe ou de seus acordos. A polêmica e a demagogia levadas ao extremo, superam neste estilo os fatos, os argumentos, e a razão. EU sou a solução, e do meu jeito! E aí qualquer governança é colocada em xeque.

nova boa governança que está sendo testada.

Os votos no caso dos EUA dividiram a nação e a aposta do novo presidente eleito é como trazer de volta o common sense americano, agora sim com personalidade e distinção.

Mas o ataque à boa governança não é um privilégio da área política.

Na área institucional, empresarial, comunitária e familiar, ela se expressa em suas diversas dimensões similarmente ao que presenciamos na política. Instituições como a OMC que esperam por sua reforma, terão o enorme desafio pela frente. Não é diferente na OMS a tão importante organização de saúde, sem se falar da ONU, e no nosso continente a OEA. Até a boa tradição do BID, de normalmente eleger um presidente latino americano, para contrapor o peso dos EUA e Canada, desta vez foi para os EUA, não seguindo uma longa tradição.

nova boa governança está no banco de provas… POC proof of concept

Enquanto no âmbito empresarial os conceitos como ESG Ecological Social Governance se espalham pelos mercados, assim como ESR Economical Social Responsability, entre vários outros, mostram que a diferença está justamente no tipo de governança que a organização pratica, com valores de transparência, inserção social, equidade de gênero e raças entre outros. Pela primeira vez estas siglas de sustentabilidade trazem o fator o que demostra a preocupação da governança, que antes não era tão priorizada. Mas as formas radicais com as quais as empresas ou instituições estão sendo confrontadas levam muitas delas a manterem os velhos e bons hábitos de poder, pressão de resultados exagerados, reações desproporcionais de performance econômica e competição individual. A pandemia abriu um grande vácuo nestas tendências pelo afastamento social, a perda de noção de equipe e cultura vivida, o medo da perda de emprego entre outras, fez prevalecer a tendência A em muitos casos.

A pandemia pela situação do isolamento social, aflorou mais ainda a impaciência e o aumento da irritabilidade das pessoas, que forma um ambiente propício ao estilo de trabalho da tendência A.

Não é diferente na representação empresarial, quantas se aproveitam da circunstância para reposicionarem sua estrutura de poder ou subjugar bons princípios de governança para manter privilégios, influencia, status, e perderem o bom costume da diversidade, transparência, e se manterem nas regras estabelecidas. Não são poucas, que por conta da pandemia, não seguem mais seus conceitos, regulamentos ou até estatutos. O jogo de poder pelos amigos, privilegiados e outros superam a boa conduta da governança transparente, previsível, estimulando o controverso.  Nas comunidades sociais, virtuais ou não, o controverso é cada vez mais visto não como um adversário, mas como um inimigo, que leva a consequências de romper relacionamentos.

De fato, a nova boa governança está no banco de provas.

A POC Prove of Concept prova de conceito da nova boa governança será um despertar, não para a mesmice, o sempre politicamente correto, mas na diversidade no controverso, para fazer as opções de maneira corajosa, transparente e compartilhada.

Quer se mudar o mérito pela forma. Na história das civilizações isso nunca levou a processos pacíficos, mas muito beligerantes. Mudar a forma é totalmente legitimo desde que se constitua dentro do regramento previsto e não na maneira aleatória, voluntariosa e personalíssima.

Teremos tempos difíceis diante de nós, precisamos sim modernizar os procedimentos multilaterais rapidamente, reformular regras de boas condutas, que fazem jus aos novos tempos, e mantermos a paciência e a tolerância para com os que pensam de maneira diversa da nossa.

O que nos une e muito mais forte, do que o que nos separa, a sabedoria está em acharmos isto juntos.

  • A new reality – Human evolution for a sustainable future, Jonas Salk and Jonathan Salk city Point Press, 2018,

“As idéias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões de instituições que atuam.”

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