Novas Dinâmicas para as Estratégicas

Escrito por Ingo Ploger em .

Article Latin Trade November

 

Novas Dinâmicas para as Estratégicas

 

Ingo Plöger: Brazilian entrepreneur, CEAL Brasil President

 

Os novos propósitos que classificamos como PPP People Planet Plurality,1) nos mostram novas dinâmicas nas diversas regiões econômicas, dando foco a prioridades diferentes. A Europa já define como sendo o seu P pós pandêmico a inauguração da revolução verde. Os EUA envolvidos nas eleições presidenciais colocam a pluralidade e sua diversidade, portanto o P Plurality como sendo a sua preocupação com sociedade civil insertiva. Nós na América Latina assustados com o aumento da pobreza extrema e das perdas sociais, temos como foco a reduzir o impacto social de miséria e desemprego no continente, colocando a questão pessoas à frente. Portanto nosso P´ preferencial é o People.

Não quer dizer que as atenções não se darão aos outros P´s, mas são colocados em prioridade menor. Tem-se a percepção que todos nós sairemos na pandemia:

Menos globais,

             Mais digitalizados e

             Mais pobres e mais ricos

Isso aumenta a responsabilidade local e as políticas se tornam mais nacionais, mais protecionistas, menos solidários e mais radicais. Favorecerá os grupos que buscam soluções mais radicais, menos liberais e dando espaço para o Estado. No curto espaço de tempo, as agendas de cooperação sofrerão revezes. Os espaços liberais terão retrocessos e o Estado receberá maior apoio para fazer frente a todas estas agendas. Sobrepõe-se a esta circunstância a tensão entre os EUA e a China, que vai além das eleições presidenciais, sendo muito mais uma questão de percepção de dois sistemas capitalistas em competição: o capitalismo liberal versus o capitalismo de estado. Impressionante são as quedas do PIB mundial e com exceção da China, todos os demais terão PIB negativo. O endividamento dos países mostra um acréscimo assustador: uma pela queda do PIB e outra pelos dispêndios adicionais que os estados realizam para diminuir o impacto na economia local. O ano de 2020 demonstra que vários países tiveram que decretar estado de emergência de saúde e consequente autorização de endividamento nas contas públicas muito além do permitido.

Isso fez com que a responsabilidade econômica dos estados fosse colocada por um ano fora da normalidade,  autorizando dispêndios excepcionais para sustentar pessoas físicas da miséria e proteger PME´s de colapsos. A consequência para 2021 é a de um endividamento/PIB maior com arrecadações menores. A sorte é de que esta evolução não necessariamente será inflacionaria, pela grande ociosidade nas capacidades produtivas pressionando preços.

Observando esta nova e diferente dinâmica, alguns riscos e oportunidades precisam ser ressaltados. O primeiro risco mais evidente é o de um default sistêmico. O monetary easing e credit easing em larga escala faz com que algumas economias de porte, como no caso do Japão, tenham um endividamento/ PIB maior que 270%. O que significa que o Japão precisa crescer em 2,7% se quiser pagar uma dívida de somente 1% sobre suas exposições. Não fica difícil entender que no longo prazo isto não se sustenta. Alguns já propõem uma saída através de um Pandemic Bond que teria o lastro de 50% das dívidas a serem pagas em 30 anos sem juros e com um waiver de 10 anos, ou poderia ser negociado ad hoc, com um deságio de 50%. Assim a dívida estaria novamente em patamares gerenciáveis. O argumento politico seria o da Covid e que estaria atingindo somente os “mais ricos” e não os mais pobres; Algo muito bem vendável em um mundo cada vez mais desigual. O que vale para o Japão neste exemplo hipotético, poderia valer para os EUA, e evidentemente para outros também. Afinal os estados sustentaram os mais fracos durante a pandemia e agora cobram dos mais ricos por um princípio de Robin Hood; argumento forte em um ambiente de maiores extremos e radicalismos.

Para a América Latina este risco sistêmico afetaria principalmente as reservas dos países, que estão lastreados na maioria das vezes em letras do tesouro americano, e, portanto, diminuiria a credibilidade de longo prazo. Internamente os aplicadores nas letras do tesouro nacional teriam o efeito acima descrito para o Japão. Os ricos ficam menos ricos. Não necessariamente seria inflacionário no primeiro momento.

Pelos indicadores publicados pelo CEPAL em julho 2020 2) a maioria dos países realizaram suportes pessoais e para as PME´s, o que oferece sustentação temporária a demandas locais por produtos de primeira necessidade. Exemplos mostram, no caso do Brasil, na distribuição de valores de R$600,00/mês (150U$) a mais de 50 milhões de brasileiros de baixíssima renda, que o consumo aumentou inclusive em demandas da linha branca ou pequenas obras civis, gerando emprego. Argumento suficiente para que o legislativo começasse a pensar em uma renda mínima permanente, o que pode ou não desequilibrar uma sustentabilidade econômica. Surgem cenários diferentes sobre o custo do desemprego e a arrecadação de empregabilidade mínima, efeito já visto no Bolsa Família no Brasil. Poderia ser uma medida para mitigar a miséria e, portanto, atender ao P People gerando renda e emprego. Evidente que estas medidas precisam ser temporárias e ter um way out muito bem definido. No caso da América Latina a participação no comércio internacional teria adicionalidades nos temas da alimentação global, exportação de elementos de sustentabilidade (CO2, fair tradegreen agenda), energias renováveis embutidas nos produtos, entre outros 3). Interessante notar que nos últimos meses houve uma significativa recuperação das bolsas de valores na região. Investidores que no início da pandemia em março retiraram posições na LAC para fazer liquidez e reduzir riscos, depreciaram os ativos vendidos pela metade, sem mencionar a depreciação das moedas. Outros investidores do que aqueles que saíram, viram uma enorme chance de agora comprar ativos em preços muito baixos, o que fez a bolsa voltar a valores alcançados quase antes da pandemia. As surpresas não param por aí. De repente em países que tem uma participação significativa no agronegócio apresentam indicadores excelentes de produção e produtividade, adicionados à retomada de compras da Ásia. Em um mesmo panorama, faltam caminhões, máquinas agrícolas e implementos para serem comprados por operadores do agronegócio. Uma classe média empregada, que já não aguenta mais o home office em apartamentos menores, busca opções de compra em casas ou apartamentos maiores, induzindo o mercado imobiliário, enquanto escritórios estão devolvendo áreas, pois a necessidade pelo home office parcial deixa 1/3 da capacidade ociosa.

As novas formas de Home Office flex ou parcial, induzem a co-working places a serem opções para regionalizar colaboradores distantes. A nova dinâmica não para aí. Os sistemas de logística de delivery terão novas formas de buscarem interlogs inteligentes. Os sistemas educacionais certamente terão para crianças e para adultos sistemas muito mais eficientes e amigáveis, onde a presença física será requisitada para os momentos importantes de convivência experimental. As escolas hoje já estão experimentando nos sistemas virtuais experiências por IA e RA a individualização do aprendizado- tendência que será global e não mais local. Quem se atrever a investir nesta área certamente será um grande vencedor do futuro.

Para a América Latina, os próximos dias e meses serão muito difíceis, mas escondem nesta dificuldade uma gigante oportunidade de integração. A integração pela educação, saúde e serviços é a mais evidente, mas a integração pela sustentabilidade se pensarmos nos biomas que nos unem e não nos separam como a Amazônia, Chaco, Pampas, Cordilheiras de um lado e Mares do Caribe, Florestas Tropicais, Planaltos e Planícies é de enorme importância para o planeta, valorizado por investidores e consumidores europeus e asiáticos.

É preciso descobrir esta nova agenda comum!

A antiga está morrendo!

Nossas dificuldades no momento nos unem mais na agenda para o futuro do que na agenda do passado.

Uma nova diplomacia para o futuro será exigida de todos nós.

Mãos à obra, não temos tempo a perder!

https://www.cepal.org/en/news/new-special-report-eclac-analyzes-covid-19s-impacts-latin-american-and-caribbean-businesses-and

“As idéias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões de instituições que atuam.”

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