O Novo Populismo, as Redes Sociais e a Democracia direta

Escrito por Ingo Ploger em março 14, 2019.

Latin Trade – Article March 019

O Novo Populismo, as Redes Sociais e a Democracia direta

Ingo Plöger

Brazilian entrepreneur, Pres. CEAL Conselho Empresarial da America Latina – Brazil

Analistas políticos de grande envergadura, começam a dar uma especial atenção ao Novo Populismo. Sustentado fortemente pelas mídias sociais uma liderança se desponta que não utiliza o “politicamente correto” para se comunicar e recebe um crescente apoio de atenção, interlocução direta e votos. O poder de síntese pelos 280 caracteres do Twitter o mais utilizado, faz com que a comunicação seja diretíssima, sem rodeios, e não profunda. São manchetes e links que podem ser lidos em menos de 2 minutos com reações imediatas. Esta força mobilizadora derrubou governos, se instalou em movimentos populares, e serve de protesto imediato paro o que não queremos. Dificilmente o Twitter se instala para promover programas, ideias e propostas que precisam de discernimento mais profundo. Alguns poucos se utilizam do Twitter para montarem “ sua tribo de excelência” seguindo pensadores e articuladores de propostas. A tendência da conformidade de pensamento da “ tribo” escolhida é reforçada continuamente pela indução através da Inteligência Artificial embutida no sistema. Mais a frente teremos cada vez mais “ comunidades de pensamentos harmônicos” ou seja ofertas de ideias e pensamentos mais próximas dos nossos valores e de nossas preferencias. Isto reforçara em volume e rapidez as conformidades, reduzindo o habito da convivência do antagônico. Ainda hoje cada um de nós se confronta desde o colégio até aos grupos de amigos a termos a necessidade de nos confrontar com a divergência de ideias. Aprendendo a separar na convivência civilizada a distinguir a ideia da pessoa, aprendendo no controverso não personalizar a opinião adversa. Já nas comunidades harmônicas estas conversas difíceis, irão se reduzir, e o confronto menos civilizado se da no choque entre as “ tribos”. Observando o desdobramento do BREXIT, as paixões se elevaram a tal nível que dentro de famílias, grupos pro e contra se radicalizaram de tal ordem que houveram situações de membros não mais se falarem. Efeito similar pode ser observado nas eleições brasileiras, entre adeptos a Bolsonaro e adeptos a Haddad de Lula, ao ponto de grupos de WhatsApp familiares terem separações irremediáveis de membros familiares. 

A linguagem direta sem filtros pela mídia social, aumentou o “ clash civilizatório” não como Huntington o previa pelos valores culturais, mas pela desarmonia profunda das tribos entre si. Enquanto a mídia tradicional de grandes públicos aumentava a linguagem do “politicamente correto”,  na linguagem direta o nível,  do nada politicamente correto mas diretíssimo e ofensivo,  retrata a realidade das pessoas. Não é difícil imaginar que este mesmo fenômeno agora turbinado pela Inteligência Artificial de reforçar a opinião simples, oportunista e momentânea, carrega lideranças ao poder.  Ao mesmo tempo percebemos um enfraquecimento da mídia tradicional, presos ao politicamente correto, que para recuperar sua adesão não consegue trazer um diferencial de jornalismo qualitativo que chame a atenção como a mídia social. 

A nova liderança política,  inspirada nesta oportunidade se apercebeu que na utilização da mídia social de grande impacto, poderia ter um diferencial que o levasse ao poder pelo voto direto. Isto aconteceu de maneira muito visível com o outsider Trump e agora no Brasil com Bolsonaro. O interessante é que continuam na comunicação a manter este dialogo direto, pelo Twitter, privilegiando o eu e você, e tirando a intermediação do porta voz e do transmissor. Presidentes deste perfil, não precisam de porta vozes, e nem a imprensa tem como interpretar algo que os seguidores já viram no Twitter. É uma forma de trazer e permanecer com o eleitor na escuta, pela forma sintética dos 280 caracteres, suficientes para saber o que se passa. Totalmente insuficiente para uma avaliação mais profunda, analítica e estratégica. Torna-se assim um populista pois sua comunicação se volta ao instantâneo de frases de efeito deixando a interpretação para quem quiser depois fazer dela o que quiser. 

A democracia direta começa a se instalar pela tecnologia do fácil e imediato. O problema é que forças da democracia como a Opinião Pública, Partidos e Instituições Democráticas, como parlamentos, Côrtes etc. necessitam do discursivo e do debate,  para serem de qualidade.

O risco desta transformação tão abrupta é que o debate se torna menos civilizado e mais selvagem. Que o cidadão quer outra forma de comunicação e resolução de seus problemas do que o politicamente correto na linguagem e – agora vem o mais crítico – nos procedimentos. Se já não tenho mais paciência no controverso, no embate de ideias, o atropelar de processos decisórios democráticos e de direito, se tornam aceitáveis. O risco das democracias de serem atropelados pelos Novos Populistas com o apoio de muitos,  não é mais uma ficção. O melhor exemplo está no BREXIT, onde o mindset, do sair da EU se sobrepôs a qualquer racionalidade, e hoje os procedimentos políticos, jurídicos  tornaram inviáveis qualquer solução, e o dead lock se instalou. 

Quem está em xeque é a democracia. Se ela não se reinventar poderá sucumbir! 

A América Latina, que predominantemente é democrática e tem um grande potencial criativo e inovador, precisa iniciar o seu processo de modernizar o seu processo político. A começar pelos partidos, e sua forma de gerenciar a sua representatividade via direta. Aqueles que conseguirem, se utilizando da eficácia das redes e da tecnologia de se aproximar mais de seu eleitorado ganhara a partida! Porem terá que admitir primeiro uma nova governança.

Nada diferente do que acontece em nossas empresas. Se estivermos longe da preferência de nossos consumidores, estaremos fadados a sucumbir, e a cada dia vemos algo novo aparecendo modificando o mindset do nosso consumidor. 

Empresários modernos e atuantes nas áreas sociais e políticas precisam com urgência serem os protagonistas da modernização partidária e dos processos políticos. Do contrário teremos mais Novos Populistas imprevisíveis em nossas democracias, e o nosso futuro se tornará muito mais imprevisível. 

Prefiro a Novos Populistas uma Nova Democracia … 

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