A Síndrome do Labirinto: a desesperada busca pelo caminho certo

Escrito por Ingo Ploger em .

Artigo Latin Trade Janeiro 2021

 

A Síndrome do Labirinto: a desesperada busca pelo caminho certo

Ingo Ploger: Brazilian entrepreneur, CEAL Brasil President

 

O labirinto representa caminhos complexos, de forma a desnortear aqueles que buscam encontrar a saída. O isolamento social mundial paralisou a humanidade, que agora busca formas de saída, preservando vidas, e retomando atividades econômicas e sociais.

A síndrome do labirinto se instalou. Não há caminhos claros, muito menos saídas evidentes.

O labirinto tem significados diversos e interpretações sobre a importância da busca. Arquiteto Dédalo construiu em Creta o labirinto para aprisionar o Minotauro, este morto por Teseu, salvo pela sabedoria de Ariadne através do fio de Ariadne ou um novelo de lã, resgatando-o de volta. Dédalo tinha um propósito:  Ariadne a estratégia e Teseu a solução. Dédalo tinha o objetivo de desorientar aprisionar. Teseu a figura do líder, que toma o risco, entra e se aventura sem saber por onde sairá e o herói se salva diante da mentoria da destemida Ariadne.

No conceito espiritual, o iniciado precisa atravessar o labirinto, para se depurar e assim alcançar a pedra filosofal, ou seja, a perfeição. É nesta caminhada que o iniciado alcança o núcleo de si mesmo. Temos na história o labirinto de Salomão, o rei sábio do Antigo Testamento, ou o labirinto das catedral de Chartres, que encabeçam esta experiência da busca da essência da verdade em si próprio.

As obras idealizadas com formas labirínticas criadas para desafiar, a partir de Dedalo na ilha de Creta, cujos escombros podemos visitar até hoje, antigos labirintos do Antigo Egito, o labirinto do jardim de Versailles, entre outros. Na modernidade a maior Rede de conexões, desvios pontos já criada uma das maiores experiência da sociedade a internet. No labirinto das redes, existem dois estilos engenhosos são usados para navegar. Um deles conhecido como de Ariadne Sábia (lembrando a estratégia da mentora para Teseu não se perder), onde o caminho é assinalado pelo novelo de lã. Assim os internautas retornam por via mais claras e seguras. A outra denominada de Ariadne Louca, onde o internauta navega sem se atentar ao caminho através de ensaios e erros, sem poder refazer a trilha percorrida. Tanto uma estratégia como a outra podem levar a variados resultados. O escritor argentino Jorge Luis Borges se valeu desta imagem na composição de seus textos “O Labirinto” de um mundo do qual é impossível fugir, pois seus caminhos são totalmente desorientadores e ilusórios.

É nesta síndrome de busca que para conhecermos a nós mesmos que estamos, como Teseu, navegando pelos Dédalos, orientados por Ariadnes, sem saber as saídas.

Uma busca interna pelas essencialidades verdadeiras como processo, assim como descrito no meu último artigo do mindset.2.

Me parece interessante para este momento, levantar opções das saídas, especificamente as econômicas e questionar algumas essencialidades que encontraremos no caminho.

Duas saídas econômicas parecem estar se vislumbrando no horizonte. O capitalismo político e o liberal. Branco Milanovic descreve em sua brilhante obra Capitalism Alone 2, o capitalismo liberal como aquele fundamentado no Ocidente, com predominância dos EUA, e o capitalismo político no Oriente com seu expoente na China. Ao final o capitalismo venceu, mas a sua forma é bem diferente. O capitalismo meritocrático liberal, há democracia, e o mérito em tese é a chave da ascensão de elites, submetidas ao Estado de Direito.

O capitalismo político representado pelo sucesso econômico da China põe em xeque que o capitalismo necessita de políticas liberais para se desenvolver. Na China 80% da produção está no setor privado, mesmo reconhecendo ao final do dia que estas empresas tem o Estado como sócio. O instigante na obra de Milanovic se dá pela referência da aceleração da desigualdade mundial. Confirmando de maneira diferente o que Thomas Piketty descreve em o “Capital e as Ideologias” na qual confirma o aumento da concentração de renda mundial.

Temos assim um embate conceitual de capitalismo onde os EUA representam o lado liberal meritocrático e a China o capitalismo político. O embate que alguns já caracterizam como uma “nova guerra fria” onde o mundo será forçado a se posicionar, com os riscos de sanções de dois lados. A União Europeia, terá que fazer seu cenário de pertencimento, e qualquer dos lados que irá tender terá consequências econômicas severas. A América Latina por sua vez, alvo das duas frentes:  uma pelos investimentos de Estado em infraestrutura a outra pelas privatizações, assim como por seus mercados. Mais expostos estão os países e seus blocos que tem uma exposição forte de seu comércio internacional pelo PIB. Assim, Japão, Coreia, Singapura de um lado e Alemanha, França e Suécia do outro.

Após a pandemia o mundo terá mais pobres, e os ricos estarão mais ricos. E nesta desigualdade, a síndrome do labirinto irá provocar severas mudanças sociais e políticas.

No ano de 2020, teremos uma maior participação do Estado sobre as economias. As medidas de estímulo para a retomada da economia e de distribuição de renda mínima aumentará a presença do Estado com um papel preponderante. Vamos presenciar um endividamento público sobre o PIB sem precedentes na história o que certamente contribuirá para o capitalismo político. Neste momento as instituições democráticas estarão sob forte stress provenientes dos radicais da esquerda e dos nacionalistas, para quem esta solução sempre foi a favorecida.

desigualdade se mostrará com a sua pior face. Fome e miséria aumentarão fortemente, gerando uma enorme indignação, o que favorecerá a busca por soluções mais radicais.

É nesta viagem que nos encontramos, buscando achar as essencialidades verdadeiras, com chances de encontrarmos caminhos para reduzir a desigualdade por ações individuais, coletivas, redescobrirmos a solidariedade, sermos parte da doação pelo melhor, vencermos o egoísmo, buscarmos mais o nós do que o eu. Compartilhar e dividir para ganhar e somar.

A síndrome do labirinto, talvez possa nos ensinar como encontrar o caminho para o certo, e talvez a Ariadne moderna possa nos instigar a alternativas mais solidárias, humanas e sustentáveis. Se Deus levou Moisés a andar por 40 anos no deserto antes de lhe mostrar a Terra Prometida, será que nós neste ano de 2020 iremos descobrir como fazer o certo, de maneira certa?

Seja como Teseu, não desanime, continue a tua busca e se achar uma boa saída compartilhe!

Fontes:

  1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Labirinto
  2. https://latintrade.com/2020/04/28/stop-reset-your-mindset-before-you-continue/?v=19d3326f3137
  3. Branco Milanovic, Capitalism Alone, The future of the System that rules the world, Belknap Press of Harvard University Press 2019,
  4. Capital and Ideology, Thomas Piketty,  Harvard University Press, 2018

“As idéias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões de instituições que atuam.”

Copyright © 2021 Ingo Ploger

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