Article Latin Trade September 2020
Geopolítica Pan-americana
Ingo Plöger: Brazilian entrepreneur, CEAL Brasil President
A Geopolítica mundial está mudando intensamente. O conflito EUA e China se acentua, e independentemente das eleições americanas, ele irá se aprofundar. A Europa está envolvida intensamente na questão climática, e as eleições com radicais prosperando fazem com que os governos busquem posicionamentos fortes, sem se envolverem claramente a favor ou contra os EUA ou a China. O Japão com um novo governo se vê às voltas de recuperar sua posição no mundo e segue sua trilha de distancia à China e aproximação aos EUA. O Oriente Médio com o preço do petróleo baixo, busca se manter o máximo possível em paz, e se divide nas alianças pro Israel e contra. A Rússia aumentando sua hegemonia na região traça seus laços de relacionamentos com governos não ortodoxos.
A América Latina se encolhe, para resolver sua situação dramática de saúde e economia, onde a sustentação democrática depende profundamente do nível de sustentação dos mais pobres, o que gera populismo e endividamento acima do esperado.
A situação eleitoral nos EUA leva a intervenções diplomáticas de confrontação, como é o caso da Venezuela e Cuba, para atrair o eleitorado hispânico, de um lado e de cooperação por outro.
No curto prazo a diplomacia latino americana está na defensiva ambiental, social e econômica. As notícias diárias são de confronto e insegurança, e as imagens da América Latina em outros continentes está fortemente abalada.
Pós-pandemia seremos menos globais, mais digitalizados, mais pobres e ricos. Se for uma verdade, então teremos disrupções em várias cadeias produtivas globais. A China, queira ou não, se transformou na fábrica do mundo, os EUA lideram no comercio e serviço digital global, e a Europa na produtora de processos e especialidades. As cadeias globais de produtos e serviços não se tornarão nacionais de um dia a outro, e nem conseguirão substituir o global pelo local. Adiciona-se o fato de que a pandemia mudou hábitos no mundo inteiro, alguns mudarão para sempre outros permanecerão. Cada segmento empresarial hoje renova sua matriz de risco e oportunidades para identificar por onde andará. O home e o office serão diferentes.
Os EUA, que são uma economia de longas cadeias produtivas, fará com que haja uma nova concentração de elementos americanos, repatriando parte da Europa e da China ao seu país. A Europa, obstinada pela revolução verde, e refém de seu princípio de precaução (EUA é de segurança) restringe seu mercado a este princípio, aumentando as exigências às cadeias produtivas de fora da Europa. A Europa, que por sua tradição histórica sempre buscou matérias primas de fora para beneficiá-las, agora pela exigência de seus consumidores, precisa colocar seus princípios e valores aos fornecedores externos. Pressionada de um lado para transformar sua economia ainda fortemente originária da cadeia petrolífera, a uma BioEconomia precisa realizar intensos investimentos para se tornar mais “verde”. Um caminho caro e pouco competitivo, se não contar com a cooperação intensa de seus fornecedores externos.
No médio e longo prazo o que muda para a América Latina?
O consumidor europeu de valor agregado alto, necessita na sua cadeia produtiva sustentável, um ambiente de confiança e segurança. Democracia, liberdade de imprensa, transparência e estado de direito, serão valores da governança cada vez mais valorizados. Produtos rastreáveis, de produção cada vez mais sustentável, de impactos menores ao meio ambiente receberão preferência. O cuidado ambiental e a preservação de biomas, receberão apoios institucionais e monetários. A responsabilidade com o social, trabalhos melhores de respeitos à diversidade e dignidade serão decisivos nas escolhas. Porque então a Europa tanto hostiliza a América Latina por suas politicas ambientais e sociais? Justamente por ver nela a melhor opção estratégica de longo prazo, pelas democracias, sensibilidade ao ambiente e recuperação social. As alternativas da Europa como a China, EUA, Rússia, Oriente Médio e outros continentes não apresentam este ecossistema. Os EUA por outro lado encontram na América Latina um parceiro nas longas cadeias produtivas, que não estão na Europa, e no caso da China e da Rússia, se vê com muita suspeita. Os EUA e a América Latina possuem muitas semelhanças na cadeia produtiva energética, alimentar, logística, financeira, ambiental e industrial. A China por outro lado, que também possui cadeias produtivas longas, busca na América Latina seu provimento de produtos básicos, adicionados de água e energia para transformá-los e reconduzir aos mercados.
De repente surgem para a América Latina, demandas estruturadas que mostram sua relevância no contexto global pela menor globalização, maior digitalização e consciência do consumidor quanto ao social e ambiental. A América Latina de repente, recebe por sua natureza um bônus democrático social e ambiental inesperado.
A nova Geopolítica favorece no Pan-americanismo, a longa cadeia produtiva, que contendo matérias primas sustentáveis, adicionadas por energias renováveis, água sustentável e por um sistema social e político rastreável e transparente uma primazia de referências.
Nota-se que investimentos não faltaram em 2020, um ano dificílimo num âmbito mundial, nas áreas do agronegócio, energia, água e logística. O surgimento de investidores voltados ao ESG Enviromental Social Governance, envolvendo bancos nacionais e internacionais, na busca de posições atrativas em preço e volumes. As bolsas de valores refletem isto. A América Latina começa a se tornar visivelmente uma potência alimentar, energética e ambiental. O caminho da América Latina saindo de uma economia de base fóssil para a BioEconomia se torna muito visível.
O que os mercados começam a perceber, a política e a diplomacia latino-americana ainda não se deram conta. Preocupados ao excesso na defesa de sua soberania, seu ambiente, sua economia nacional, suas políticas sociais e de saúde, não se apercebem a força existente na junção de suas potencialidades.
O Pan-americanismo energético daria à região uma inesgotável força competitiva renovável. O Pan-americanismo BioEconomico daria à região inesgotável força de sua cadeia alimentar mundial, de produtos sustentáveis advindos da origem vegetal e animal em economias circulares. O Pan-americanismo na área social, oferece na digitalização educacional, de saúde, de turismo, e atendimento de serviços sociais em um mercado integrado de mais de 500 milhões de consumidores, dos quais a maioria fala o mesmo idioma, uma potência de consumidores.
Parece que alguns países já descobriram que o Pan-americanismo representa uma potência para seus segmentos, e não faltam investidores atuais da China, EUA, Japão e alguns até da Europa, revendo suas posições estratégicas. As bolsas voltam a buscar papéis que possuam um ESG reconhecido. Os últimos a descobrirem as potencialidades pan-americanas na nova geopolítica seremos nós mesmos?
1) Abundance, The future is better than you think Peter H. Diamondis, Steven Kotler; Free Press, NY, 2012
2) Interview mit BDI Präsident Siegfried Russwurm Handelsblatt 29.01.2021